Viva o pão francês!
Começo com um aviso para os leitores brasileiros: o assunto de hoje não é o nosso querido pãozinho corriqueiro de água sal, estamos falando de um ícone supremo da boulangerie francesa: a baguette! Classique ou tradition (la tradi, para os habitués), une baguette ou une demie, suas diferentes versões ornamentam as vitrines das padarias e encantam nossos olhos e paladares. Dourada, crocante por fora, macia por dentro, esse astro francês está aguardando uma decisão importante.
A França deseja incluir a baguette no patrimônio da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
A decisão do organismo da ONU será divulgada só em 2022, mas essa proposta já resgata duas paixões francesas: o pão (e, de modo geral, a gastronomia) e o patrimônio, em todos os seus sentidos.
Atualmente, a França conta com 45 bens inscritos na lista do Patrimônio Mundial da UNESCO. Trata-se de locais que apresentam um interesse excepcional para a herança comum da humanidade, abarcando tanto sítios naturais quanto culturais. Dentre os sítios naturais, encontram-se o Golfo de Porto na Córsega, a Cadeia de Vulcões na Auvergne, os pitons (picos e vulcões), circos e escarpas da Ilha da Reunião… Dentre os sítios culturais, encontram-se construções históricas, como a cidadela medieval de Carcassonne, a Ponte do Gard, as margens do rio Sena em Paris, o Monte Saint-Michel…
Menos tangível, o patrimônio imaterial é igualmente reconhecido pela UNESCO. Trata-se de tradições e expressões de vida herdadas de nossos antepassados e transmitidas a nossos descendentes, como as tradições orais, as artes, as práticas sociais, os rituais e festas, folclores e saberes tradicionais… A França conta com uma dúzia de elementos inscritos na lista do Patrimônio Imaterial, que vão desde o Gwoka (música, cantos e dança da Ilha de Guadalupe) à refeição gastronômica (et oui !), do fest-noz (dança e festa popular da Bretanha) ao alpinismo.
Ao longo do ano e em todo o território, numerosos eventos são organizados para celebrar o vínculo entre os franceses e seu patrimônio. No mês setembro, são celebrados inclusive os Dias do Patrimônio (les Journées du Patrimoine): um final de semana, em que milhares de museus, castelos, propriedades privadas e edifícios oficiais abrem suas portas para os visitantes.
A inclusão da baguette como patrimônio imaterial da UNESCO, caso seja confirmada, irá ainda mais longe, trazendo o patrimônio para todas as casas francesas, todos os dias! Uma herança mais acessível, mais tangível e, principalmente, mais apetitosa, ao alcance de todos os bolsos. Essa inclusão irá homenagear, também, tudo o que acompanha a baguette: manteiga, queijo, tapenade (pastinha típica do Sul da França à base de azeitonas), patês e rillettes (carne de porco ou de ave confitada), geleias e gelatinas, homus tahine, caviar, foie gras etc. A decisão da UNESCO poderá, por fim, representar uma iniciativa bem-sucedida de democratização do patrimônio, enobrecendo o produto mais trivial da gastronomia francesa, feito apenas com um pouco de água, sal, farinha e fermento.
Agora, só nos resta ficar nessa deliciosa torcida pela baguette!
À la prochaine !